sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Aula de Teatro nas Escolas - Luxo ou necessidade?

Aula de Teatro nas Escolas - Luxo ou necessidade?



Para os educadores e especialistas é de suma importância a discussão acerca dos fundamentos teórico-metodológicos que sustentam a Pedagogia do Teatro e de que maneira eles se cristalizaram na história da educação brasileira.
Por outro lado, se com tantos avanços em diferentes áreas do conhecimento, a educação brasileira ainda deixa a desejar, logo não seria o ensino de teatro um supérfluo dentro das necessidades prioritárias?

A Educação Artística, na qual está inserida as Artes Cênicas, é uma disciplina reconhecida legalmente, com objetivos e propostas particulares e não tem como fim atender aos projetos de outras disciplinas ou se resumir a apresentações em datas comemorativas e no final de ano.

Temos no Brasil pouquíssimos professores de teatro, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares e esse número chega à zero em certas regiões do país. Vale ressaltar que encontramos uma quantidade irrisória de material sobre Teatro na Educação, principalmente se compararmos com outras disciplinas. É sabido que esse material editorial aumentou de uns anos para cá, mas mesmo assim ainda deixa a desejar. Quando se fala da Educação Infantil, então, diminui mais ainda, sendo a maior parte do material disponível para a faixa etária acima de 7 anos. Um dos poucos autores que desenvolve um discurso sobre o teatro para crianças menores é o inglês Peter Slade, ainda pouco conhecido pelos educadores brasileiros e oriundo de uma realidade distinta da nossa.

Uma maneira de resolver o problema da falta de profissionais capacitados seria trabalhar com os professores em geral e usar o teatro como ferramenta pedagógica dentro de algumas disciplinas. Logo, se um professor demonstra interesse em trazer o jogo dramático ou jogo teatral para a sala de aula, mesmo não tendo formação adequada, essa ideia é de muita valia e merece total apoio. É melhor ter o teatro desenvolvido por amadores do que nunca o ter. Com isso pode-se despertar o interesse não só do educando como do educador, fazendo-os procurar, por si mesmos, cursos, aulas, livros, demonstrando assim a eficácia de um caminho contrário ao desejável mas que pode surtir efeitos positivos.

No VI Congresso Internacional de Educação Infantil, organizado pela Asbrei – Associação Brasileira de Educação Infantil, que aconteceu em julho de 2010 no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de ministrar a oficina Teatro na Educação Infantil. Enquanto nas outras oficinas, que aconteciam simultaneamente, a média era de 28 a 30 participantes, apenas 18 educadores demonstraram interesse em conhecer mais um pouco sobre o teatro na escola.

De acordo com uma discussão feita na comunidade do Orkut Teatro na Educação sobre o pouco caso do teatro nas escolas, pude colher algumas opiniões de profissionais de todo o Brasil. Segundo eles, o teatro é visto tão somente como entretenimento. Outros tantos professores têm dúvidas e medo de arriscar o que aprenderam na faculdade. Eles citam, também, que falta incentivo de pais, professores de outras disciplinas e até da direção da escola, devido a isso muitos alunos ficam desmotivados. Em outra situação a aula é encarada como recreio, como cita a professora Daniele Jácome da rede estadual de São Paulo. Observamos nesses relatos uma falta de estruturação dos fundamentos teórico-metodológicos.

Como muito bem citado por Ingrid Koudela, as bases teóricas são de suma importância. Contudo, falta ao professor brasileiro tempo, dinheiro, ânimo e apoio para se aprofundar, debater, pesquisar. Um dos maiores desafios seria: como motivar um profissional para o estudo e a atualização quando ele trabalha o dia todo com turmas de 45 alunos?
As poucas escolas que tem o teatro no currículo contam apenas com um professor dessa disciplina, logo teria ele que buscar, em outros lugares, um grupo de estudo ou discussões. Por outro lado seria necessário fazer com que os profissionais de outras áreas vissem a importância do teatro para o desenvolvimento global do educando.

Se o curso de formação de professores e as faculdades de Pedagogia tentam colocar a discussão teórica como alicerce para uma prática, fica devendo, e muito, no trabalho de campo. As escolas públicas, muitas vezes carentes de tudo, não oferecem espaço ou materiais apropriados para um aprofundamento das práticas teatrais, sem falar no número de alunos por turma, o que atrapalha o trabalho do professor; já as escolas particulares, não demonstram interesse em ter essa disciplina como parte do currículo e a colocam como atividade extra, após o horário das aulas, cobrando um valor à parte.

O jogo dialético de raciocínio, que objetiva a peça teatral brechtiana, pode ser conseguido, também, através de uma conscientização social, já feita por professores de diferentes disciplinas. Para Brecht, ensaio significa experimentação, ou seja, testar várias possibilidades simultaneamente e isso requer tempo. A partir do momento em que se teoriza para o professor, que depois não terá oportunidade de ler mais, de experimentar, ele também ficará com medo de colocar em prática o que ainda não domina.
Um outro objetivo é a construção do conhecimento pelo próprio aluno, onde ele examinará e questionará o seu fazer. A avaliação é reflexiva e acontece durante o processo, mas para isso precisa-se de total estudo e domínio, para uma boa orientação aos alunos. Como mediar uma classe se o professor não se sente seguro para tal? Devido a isso ainda observamos alguns educadores inseguros, sendo os donos absolutos do conhecimento e não admitindo nenhum tipo de pensar diferente do que é colocado. Sem falar que grupos com realidades e vivências distintas pedem modos de trabalhar distintos, coisa difícil para quem cristalizou formas de atuar perante a turma e que tem medo do desconhecido, como, por exemplo, um simples debate em sala. Também é difícil ouvir a avaliação dos alunos, já que seu trabalho estará em jogo. Esses profissionais querem ensinar a todo custo, como se os alunos fossem meros depósitos, coisa essa que está do lado oposto ao que prega Koudela.

É de muita valia buscar bases teóricas e metodológicas e debater a sua funcionalidade dentro da sala de aula, mas é necessário, também, toda uma reestruturação do sistema, o qual cobra o tempo todo provas e notas e onde o resultado é mais importante do que o processo, além de desvalorizar as aulas de Artes Cênicas, legando-a uma menor importância.

Infelizmente a teorização das bases pedagógicas do ensino de teatro, acaba sendo um luxo que poucos educadores tem oportunidade de ter. É preciso modificar primeiro a conscientização do educador, do educando e do sistema para depois desenvolver, com mais propriedade, uma verdadeira aula de teatro.

Resenha do texto Abordagens Metodológicas do Teatro na Educação de Ingrid Dormien Koudela e Arão Paranaguá de Santana

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Os dez mandamentos do Ensino

Esse texto é fantástico, se a maioria dos professores seguissem essas ideias, teríamos crianças mais felizes, interessadas e resultados melhores nas escolas. Se eu não me engano, ele é do livro "A Paixão de conhecer o mundo" da Madalena Freire. Procurei na internet mas não achei. Se alguém souber, poste aqui se essa informação procede, pois o que eu tenho, ainda datilografado (meio velhinho né?), está sem autoria.

Os dez mandamentos do ensino

1- Não ensine: provoque a atividade da criança (algo parecido com a brincadeira tradicional de adivinhação).


2- Leve as crianças a discutirem entre si a situação proposta e respeite as suas conclusões, mesmo que erradas (a solução dada pelas crianças corresponde a seu nível mental).


3- Não trabalhe na base da linguagem (sendo um produto social assimilado por imitação, a linguagem nada diz sobre o verdadeiro nível de desenvolvimento da criança).


4- Não prestigie a memorização: o melhor resultado é o que demonstrar capacidade de inventar e descobrir (mesmo que do ponto de vista do professor, a solução seja errada).


5- Comporte-se como técnico de um time de futebol: estimule, sugira, faça críticas, mas não jogue (o jogo é das crianças).


6- Use como material o que existir no mundo da criança (seja ela de uma favela ou de um bairro grã-fino).


7- Sempre que a criança superar um patamar, complexifique a situação (sem isto, a criança se especializa na solução obtida).


8- Na alfabetização utilize as marcas e logotipos que estão espalhados pela cidade e que são utilizados no dia-a-dia da família (não se prenda às cartilhas).


9- Organize as crianças em grupos, deixando que elas criem as regras de convivência (educação moral e cívica é democracia).


10- Leve as crianças a compreenderem o que fizeram, quer a atividade seja motora, verbal ou mental (incluir atritos que surgem entre as crianças).