sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Páscoa da Paz


O Carnaval passou e agora vem a Páscoa. Deixo para vocês a esquete A Páscoa da Paz, de minha autoria. Como sempre gosto de registrar, a dinâmica é simples, pois é para ser feito por não-atores. Quando apresentamos, foi feito pelas professoras da escola, com participação de uma turma. As meninas foram as crianças da Terra e os meninos os coelhos. No final todas as turmas tiraram fotos com os personagens. Ah, pra não perder o hábito, eu sou o Coelho.

A Páscoa da Paz
*Autoria de Alessandra Mourão

Personagens: Coelho da Páscoa, Flor, Borboleta, Peixe, Leão, Estrela e crianças

Coelho – A Páscoa está chegando, gente. Sabiam que é a minha data preferida? Mas esse ano eu estou triste. Só vejo discussões, desentendimentos, destruição. Isso não combina com a época da Páscoa. Até na terra dos coelhos tem briga. Querem ver? Coelhinhos venham cá!

Entram várias crianças vestidas de coelho e começam a brigar.
- Seu bobo, feio! Não gosto de você. Chato!
- Vou puxar a sua orelha, bobo!

Coelho – (Para a plateia) Viram como está a situação? Que coisa triste. (Para os coelhos) Parem! Parem com isso! Vão fazer os ovos da Páscoa. (Coelhinhos saem) A quem eu posso pedir ajuda para encontrar a paz? Hum, deixa eu pensar. Já sei! Vou pedir ajuda a todas as crianças do planeta Terra. (Chamando) Crianças, me ajudem! Por favor!

Entram várias crianças, cada uma com uma bandeira de um país.
Música – Crianças da Terra.
Coelho – Sei que cada um de vocês vai fazer o melhor para tentar encontrar a paz. Nunca deixem de buscá-la. Tchau, crianças! (Crianças saem) Agora fiquei mais animado. Também vou procurar a paz. (Procura por todo o palco)
Entra a Flor.
Flor – Olá Coelho da Páscoa. Tudo bem?
Coelho – Oi, como vai?
Flor – Vou bem e você? Muito animado para o domingo de Páscoa?
Coelho – Mais ou menos. Tem muita confusão pelo mundo e eu queria um domingo mais tranquilo. Estou procurando a paz. Você sabe onde ela está?
Flor – Claro que eu sei.
Coelho – Que ótimo! Onde?
Flor – A paz está no jardim, no meio dos cravos, rosas, violetas, margaridas.
Coelho – No jardim?
Flor – Com certeza, pode ir lá.
Coelho – Vou dar uma passadinha por lá. Obrigado Florzinha.
Flor – De nada. (Sai)
Coelho – Não custa nada ir até o jardim. O caminho é por aqui. (Coelho anda enquanto canta: “De olhos vermelhos, de pelo branquinho...”)

Entra a borboleta voando.
Borboleta – Oi Coelho! Que bom te ver!
Coelho – Oi, Borboleta.
Borboleta – Aonde você vai?
Coelho – Até o jardim. Vou procura a paz.
Borboleta – Mas ela não está lá.
Coelho – Não?
Borboleta – Nananinanão!
Coelho – E onde fica a paz, então?
Borboleta – Ela fica no céu, lá no meio das nuvens.
Coelho – (Olhando pra cima) No céu? Tem certeza?
Borboleta – Tenho, bem lá no alto. Está vendo?
Coelho – Não!
Borboleta – Tem que ir mais perto, daqui não dá pra ver direito. Agora não posso te mostrar, estou muito atrasada para a reunião das borboletas. Tchau Coelho. (Sai)
Coelho – Espere! Como vou achar a paz lá no céu? Coelho não voa! E o que ela foi fazer lá em cima? Sabe da maior? Vou continuar procurando por aqui mesmo, vou seguir o curso do rio. (Andando)

Peixe – Oi! Acho que eu te conheço, você não é o... o...
Coelho – Coelho da Páscoa.
Peixe – Isso mesmo! Sabia que as suas orelhas eram familiar. E como vão os preparativos para a Páscoa?
Coelho – Ah, na terra dos coelhos está a maior confusão. Eles brigam mais do que trabalham, não sei se teremos ovos suficientes esse ano. Corre até o risco de ter criança sem ovo.
Peixe – Criança sem ovo? Isso nunca aconteceu desde que eu me entendo por gente, ops peixe.
Coelho – Talvez esse seja o primeiro ano. A não ser que eu encontre a paz.
Peixe – Paz? Por que não falou logo?
Coelho – Vai dizer que você sabe onde ela está?
Peixe – Claro que eu sei.
Coelho – Então fala logo.
Peixe – A paz vive no fundo do rio.
Coelho – No fundo do rio?
Peixe – Isso aí, e de rio eu entendo. Lá é silencioso, tranquilo, uma maravilha. Aparece lá! Agora preciso ir, não posso ficar muito tempo na superfície. (Sai)

Coelho – Ai, ai, ai, cada um fala uma coisa e além do mais coelho não nada. Onde será que a paz se enfiou? Noutro dia mesmo ela vivia por aqui. (Para a plateia) A paz está por aí? E aí? Vocês viram a paz? Preciso encontrá-la e rápido!
(Entra o Leão)
Leão – Falando sozinho Coelho?
Coelho – Estou tentando achar a paz.
Leão – Ela está na floresta, não sabia?
Coelho – Na floresta?
Leão – Lá é um sossego no meio das árvores. Não se escuta essa barulheira aqui, não.
Coelho – É verdade. Lá está sempre tranquilo, só tem sons da natureza.
Leão – Aparece lá. Será muito bem-vindo e eu te mostro onde ela fica. (Sai)

Coelho – Hum, estou achando isso meio estranho. Cada um fala uma coisa diferente. Não sei não. Ai que brilho é esse? (Entra a Estrela) Uma estrela.

Estrela – Olá, Coelho. Como vai?
Coelho – Um pouco triste. A Páscoa é no domingo e eu quero que ela seja de paz, mas não consigo encontrá-la. Cada um fala uma coisa diferente. Estou confuso.
Estrela – Não consegue encontrar a paz? É porque não está procurando no lugar certo. Ela sempre esteve no espaço e se espalha por todo o universo.
Coelho – Assim vou acabar virando um coelho astronauta.
Estrela – Não é uma má ideia. Lá em cima é uma paz só. Você vai gostar. Aproveita que eu estou aqui e te dou uma carona. Vem, suba nas minhas costas.
Coelho – Não, prefiro ficar com minhas patinhas em chão firme.
Estrela – Que pena que você não quer vir.
Coelho – Fica para outra vez.
Estrela – Boa Páscoa para todos aqui da Terra. (Sai)
Coelho – (Desanimado) O tempo está passando e eu não acho a paz. Cada um vem com uma história diferente: a flor disse que está no jardim, a borboleta no meio das nuvens, o peixe no fundo do rio, o leão na floresta e a estrela no espaço. E agora? (Senta-se, abaixa a cabeça e começa a chorar) Onde está a paz?
Música – Paz – Clésio Tapety>Durante a música o coelho levanta-se e procura a paz pelo palco. Depois distribui rosas brancas ou pombas da paz feitas de cartolina para as crianças que assistem.
Coelho - Já sei! A paz está em todos os lugares! E é a gente que faz. Ela pode estar aqui, ali, lá longe, no mar, no rio, no céu, na floresta, no jardim, dentro da nossa casa, na nossa escola, no nosso país. O segredo é que ela fica aqui, dentro do nosso coração. E ela aparece quando a gente faz o bem, ajuda as pessoas, é tolerante, respeita as diferenças, desculpa o amigo, faz carinho, dá amor. É isso! Vou chamar todos os meus amigos para contar o que eu descobri. (Sai de cena)

Entram todos os personagens, cantando e dançando.
Música A paz – Roupa Nova>
Boa Páscoa!!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Faz de Conta


Artigo de minha autoria que foi publicado na revista Educação Infantil da Editora Minuano - fevereiro de 2012

O teatro é a arte que mais se aproxima das crianças, pois, desde cedo, os jogos simbólicos e as brincadeiras de faz de conta fazem parte da vida delas.

Ao observarmos uma criança brincando de casinha, de mãe e filha ou de escola, notamos que ela imita algumas coisas do seu cotidiano.

Para Vygotsky, existe uma combinação de situações reais com elementos fantasiosos, que surgem da necessidade de reproduzir a vida do adulto, da qual ela ainda não participa ativamente. Essa reprodução é baseada em conhecimentos prévios da realidade. Desse modo, quanto mais rica for a sua experiência de vida, maior será o material disponível para a sua imaginação, que se materializará no seu faz de conta.

A criança é autoexpressiva por natureza e o teatro, nessa idade, deve ser espontâneo. Um dos poucos autores que desenvolveu um discurso sobre o teatro para crianças na fase pré-escolar é o inglês Peter Slade, autor de O Jogo Dramático Infantil. Após 20 anos de observações e trabalhos com crianças, ele definiu o jogo dramático infantil como: “a maneira da criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorver.” (SLADE, 1958, p.18).

Existe uma diferença entre o jogo dramático e o teatro propriamente dito. O teatro como conhecemos é uma ocasião com data marcada para apresentação e tem uma ordem, onde os atores e a plateia são separados. No jogo dramático, todos são atores e público ao mesmo tempo, mas nem por isso ele é menos do que o teatro, considerando que pede envolvimento e sinceridade e é vivido fortemente pela criança.

A palavra drama tem origem no latim e significa “eu faço, eu luto”. Ainda segundo Slade, p.18: “a criança descobre a vida e a si mesma através de tentativas emocionais e físicas e depois através da prática repetitiva, que é o jogo dramático.”

O jogo dramático possui duas qualidades que são: absorção e sinceridade. A primeira significa estar totalmente envolvido no que se faz e a segunda é uma forma de honestidade ao dramatizar e para que ela ocorra precisa da absorção.

Toda criança é naturalmente criativa, e cabe ao professor organizar, de forma sistemática, esse potencial, dando oportunidade e encorajamento, o que Slade chama de “nutrição”, que, segundo ele, difere de interferência. O professor pode dar algumas sugestões sobre o que fazer, mas nunca como fazer. O seu papel é o de estimular a participação, sem obrigar, deixando a criança experimentar, e de mediar, ao aproveitar as sugestões dadas pelo grupo.



Para começar um trabalho com teatro na sua turma de Educação Infantil, o professor pode confeccionar uma caixa junto com os alunos, onde serão guardados: chapéus, arcos, perucas, luvas, máscaras, pulseiras, bolsas, óculos, roupas diversas e tudo mais que possa ser usado nas aulas.

O primeiro momento é de exploração, onde as crianças experimentam roupas e acessórios para compor os figurinos. O ideal é que tenha um espelho em sala para que elas possam ver o resultado. Conforme definem o que usarão, sentam-se, aguardando os colegas. Quando todos estão prontos, a caixa é guardada e, conforme combinado anteriormente, não se pode pegar mais nada. Se algo incomodar ou não for necessário, deve ser deixado num canto. Essa medida evita trocas de roupas durante o jogo, interrompendo o grupo.

Em uma roda de conversas, cada criança conta “quem é”: nome do seu personagem, o que gosta de fazer e tudo mais que achar importante. Observa-se que as crianças de 3, 4 anos criam os próprios personagens enquanto as de 5, 6 anos já formulam toda uma situação envolvendo o personagem e as relações que mantêm com os outros, combinadas com os colegas.

Às vezes, surgem muitas ideias ao mesmo tempo e é preciso administrá-las de modo que possam ser aproveitadas e haja um entendimento geral. Ao perceber que a história caminha pela iniciativa dos próprios alunos, o professor pode parar de contar e deixar que eles conduzam, ajudando quando necessário.

A formação dos grupos varia, dependendo no número de alunos e do interesse deles, podendo toda a turma estar envolvida na resolução de um problema ou se dividir naturalmente, cada um com seu interesse específico. Nessa idade nem todos aceitam prontamente a ideia dos colegas, querendo que as suas prevaleçam. Posteriormente o professor deve sugerir momentos em que todos possam estar novamente juntos, criando situações de integração dos subgrupos.

Em uma aula na Amanhecendo Escola para Bebês e Crianças, na Lagoa, Rio de Janeiro, os personagens criados pelas crianças foram: médica de animais, fada, porco, ovelha, leão, ninja e vendedor de gravatas. A menina de 6 anos, que era a médica de animais, tornou-se uma líder natural, levando-os por um caminho em que tinham que passar por cavernas, andar por um chão escorregadio, por caminhos estreitos, entre outros. Todos a seguiam enquanto ela dava ordens como: “esquerda”, “direita”, apesar do caminho continuar o mesmo, em volta da sala, pois as crianças ainda não dominam essas noções.

Houve um momento em que os personagens caíram num buraco imaginário e ela usou a alça de sua bolsa como corda para que eles pudessem subir. Ao jogar a “corda” para a fada, ela se corrige, dizendo: “Ah, a fada não precisa, ela sabe voar. Em outra situação fala: “A doutora esqueceu a bolsa dela.” Referindo-se a si mesma na terceira pessoa.

A história pode seguir caminhos diferentes e é preciso flexibilidade e criatividade por parte do professor, já que o final vai sendo construído à medida que ela se desenrola. A aula deve finalizar de forma calma para que todos voltem a se organizar e a se concentrar para a avaliação. Esse momento é importante para que o professor perceba o que eles gostaram, o que sentiram falta, se querem continuar com o mesmo tema na aula seguinte, o que deu certo e até sistematizar valores que apareceram, como a ajuda ao próximo, por exemplo.

Pode-se ainda desencadear discussões do tipo: Podemos ser felizes para sempre?; Será que a madrasta não podia ficar boa?; E se a princesa não quisesse se casar com o príncipe? Conseguindo, assim, com que a criança pense e elabore essas e outras questões, sem aceitar tudo o que é imposto pela sociedade.

O ser humano tem o poder de inventar, de criar e o teatro nos permite isso. Ele pode ser feito em qualquer espaço, numa sala de aula ou no pátio, tendo ou não materiais disponíveis. Cadeiras viram ônibus ou trem, debaixo da mesa pode ser uma caverna ou se for coberta com um pano, vira uma cabana, se a mesa for colocada de pernas para o ar, ela transforma-se num elevador. O uso de objetos imaginários é permitido, assim como transformar o que se tem em mãos.

Considerando que a brincadeira deve ocupar espaço de destaque nessa faixa etária, a prática dos jogos dramáticos respeita a individualidade e o momento de cada criança da Educação Infantil. Ele possui aspectos do contexto social no qual aparece um problema e deve-se buscar a solução através da prática da ação, sendo necessário um acordo entre todos. As regras são estabelecidas pelo grupo no momento em que a ação está acontecendo. Através dessa vivência social o aluno descobre a si mesmo como participante de um grupo, socializando-se. Os jogos dramáticos são os primeiros passos para a introdução dos jogos teatrais e para o ensino de teatro futuramente.


Referências Bibliográficas:
FERREIRA, Aurora. A criança e a arte – O dia-a-dia na sala de aula. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008. In: BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1991.

JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do Ensino de teatro. Campinas: Papirus, 2003

MACHADO, Maria Clara e ROSMAN, Marta. 100 jogos dramáticos. Rio de Janeiro: Agir, s/d.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
________. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
REVERBEL, Olga. Jogos teatrais na escola – Atividades globais de expressão. São Paulo: Scipione, 2006.
________. Um caminho do teatro na escola. São Paulo: Scipione, 1989.

SLADE, Peter. [1958] O Jogo dramático infantil. São Paulo: Summus, 1978.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

________. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A criação de um personagem



Existem milhares de personagens espalhados pelas histórias, filmes, desenhos animados, peças de teatro. Cada um com suas características particulares, como: jeito de andar, de falar, trejeitos. A colocação de voz de uma bruxa é diferente de uma princesa, por exemplo. Uma criança não anda da mesma maneira que um idoso.

Fada, camponesa, herói, rei, rainha, homem de gelo ou de lata, animais ou objetos falantes. Podemos inventar tantos personagens quanto a nossa imaginação deixar, pois ela não tem limites.

Um excelente exercício é pedir que os alunos criem um personagem, desenhando-o. O traçado é o menos importante, e sim colocar no papel todas as características possíveis, não só físicas, mas também de personalidade.

As fotos ilustram um trabalho feito com crianças de 5 anos de idade.


Exemplo de uma aula de criação de um personagem

- Conversar com a turma sobre a variedade de personagens existentes. Qual é o preferido de cada um? Qual é o mais estranho? E o mais assustador?

- Cada um deve criar um personagem, através de desenhos, falando ou escrevendo o nome, idade, como ele é, o que gosta de fazer, manias, com quem mora e tudo mais que achar importante. Apresentá-lo para o grupo. Criar um painel com todos os desenhos.

- Todos juntos devem caminhar pelo ambiente como se fosse o seu personagem, passando por várias situações mencionadas pelo professor, como: começou a chover, estavam apressados, machucaram o pé numa pedra, ficaram zangados com um esbarrão, lembraram que alguma coisa ficou em casa e é preciso voltar, estavam cansados.

- Encontro dos personagens. Como o seu personagem age quando encontra com outro na rua? Ele fica feliz, desconfiado, chateado? Falam muito ou são de poucas palavras? Sobre o que eles conversam? Vamos dramatizar esses encontros?

- Sentados em roda, passar um objeto e cada um que estiver com ele em mãos, conta um pedaço de uma história que vai sendo criada na hora pela turma.

- Dividir em grupos e cada participante, encaixará seu personagem na história criada anteriormente pelo grupão, fazendo as adaptações necessárias.

- Cada grupo apresenta a cena criada com a participação de todos os componentes e seus respectivos personagens.
Para a próxima aula, cada um deve criar uma pequena cena individual em que o personagem apareça numa situação atual ou inusitada. Pode ser a mesma situação para todos, como por exemplo, o Carnaval.