domingo, 3 de fevereiro de 2013

Teatro com os pés

Pelegrino & Petrônio
Ziraldo
Era uma vez um pé que se chamava Pelegrino. Seu sonho era ser bailarino.
Ele era o rei da ponta! Chegou a estudar francês, não para ser de bon ton, mas para fazer o glissé e mais o pas de bourrée avec toute la perfection.
Pelegrino se soltava no espaço, todo leve. O seu sonho era dançar como dançou Nureiev.
Ou - está bem! - como Travolta (no tempo em que ele dançava). E Pelegrino, acordado, sonhava. E como sonhava!
Era uma vez um outro pé que se chamava Petrônio. Também era um sonhador: queria ser um craque, ser um rei do futebol na defesa e no ataque.
Ele era sensacional, talentoso, jeitosinho... Sabia bater na bola (mas batia com carinho). Sabia brincar com ela - sua velha camarada. Dava passes de trivela e arrasava na embaixada.
Tudo bem... dois sonhadores. Mas vejam o que é o destino: o Pelegrino era irmão do Petrônio!
Acontece que os pés são assim: só nascem aos pares, de fato. (Que nem sapato.) E agora? Como é que ia ser? Um Pelegrino pensando permanentemente em passos, em palmas, pulos e pássaros, em pouso, paz e aplausos.
E um Petrônio preocupado com a perfeição dos passes, a ponta, o pique, a pelota, a pontaria... e o gol!
E não tem choro nem vela: pés são um par. Como irmão siameses, que não dá pra separar. Mas muitas cabeças - dos dedos! - pensam melhor, ora pois. Ideia que vale por duas vale melhor para dois!
Depois de muita conversa - irmão não briga com irmão, o Pelegrino e o Petrônio encontraram a solução.
E os dois foram trabalhar - vejam a vida como é - nas chuteiras de um craque tão bom quanto foi Pelé.
Foi lindo o seu gol, Petrônio!
Adorei sua performance, Pelegrino!

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